Como lidar com as emoções dos filhos também envolve as emoções dos pais
- Jéssica Domingues
- 26 de set.
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de nov.
Lidar conosco e com as nossas emoções já não é tarefa fácil, quando nos vemos convocados a um lugar de responsabilidade para auxiliar alguém que está em um estágio de dependência junto a nós, tudo pode ficar ainda mais difícil.

Somos convocados a rememorar muitas vivências e podemos nos ver reproduzindo o que juramos não reproduzir, desde as coisas mais obvias e conscientes às mais inconscientes e profundas. Seja o tom o de voz, seja a dificuldade no desmame... Winnicott tem um papel importante na teoria psicanalítica por justamente mostrar que o adulto que está ali com o bebê tem suas marcas e histórias e como essa alquimia da relação com o bebê não é neutra.
Podemos nos ver convocados a cenários de reprodução ou compensação e muito disso pode vir de emoções ainda não elaboradas e que são conjuradas nesse encontro. Poder ouvir as próprias emoções pode ser uma aventura libertadora e enriquecedora para a forma de relacionar-se consigo e com os outros, inclusive com esse que se vê dependente de nós.
Cuidar de alguém é um trabalho delicado e sensível, exige adaptação aos recursos do momento e espaço para que novos recursos possam ser criados, esse ponto ótimo vai se confundir em muitos momentos, mas o respeito e a reflexão sobre as próprias emoções podem auxiliar nessa tarefa desafiadora.
O desafio de lidar com as emoções dos filhos convoca o infantil no adulto
Cuidar de uma criança vai muito além de atender às suas necessidades práticas do dia a dia. Muitas vezes, os pais se deparam com o desafio de lidar com as emoções dos filhos: birras, choro, medos ou inseguranças. Mas, ao tentar acolher essas vivências, surge uma descoberta importante — as emoções infantis costumam tocar diretamente nas próprias emoções dos pais.
Quando as emoções dos filhos encontram as emoções dos pais
É comum que reações emocionais da criança despertem lembranças e sentimentos guardados, seja de forma consciente ou inconsciente. O tom de voz, a forma de reagir, o incômodo diante de certas situações… tudo isso pode estar ligado a experiências anteriores na vida do adulto. Nesse encontro entre gerações, os pais podem se ver repetindo ou compensando padrões que gostariam de evitar.
Por que é importante reconhecer esse encontro emocional
Reconhecer que lidar com as emoções dos filhos também envolve o universo emocional dos pais da abertura para um olhar mais profundo sobre si mesmo. Esse reconhecimento pode favorecer:
mais paciência e empatia no vínculo com a criança;
compreensão dos próprios limites emocionais;
oportunidade de elaborar experiências pessoais que ainda ressoam.
A análise pessoal como espaço de elaboração
Ao buscar um espaço de escuta, como a psicanálise, os pais podem compreender melhor de onde vêm suas reações e construir formas mais conscientes de se relacionar com os filhos. Afinal, cuidar das emoções infantis também passa por cuidar de si mesmo.
Referência:
Winnicot, D. (1950-60). A família e o desenvolvimento emocional.
Continue lendo:
Se você gostou deste texto, talvez se interesse por:
Sobre a Autora:
Jéssica Domingues é psicanalista com percurso formativo pelo Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Atende adolescentes e adultos em consultório particular, com atendimento presencial em Higienópolis (São Paulo) e Cerâmica (São Caetano do Sul), além de atendimentos online. Participa de grupos de estudos voltados à psicanálise contemporânea. Interessa-se por temáticas como depressão, luto, repetição e as formas atuais de mal-estar. É autora do artigo “O conceito de limite em André Green como proposta anti-procustiana ao enquadre clássico”, apresentado na Jornada de Membros do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes de 2022.
Se esse texto te deixou pensando, e quiser conversar sobre um possível início, você pode agendar uma sessão ou me escrever.













Comentários