Terapia de casal: quando procurar, como funciona e o que esperar do processo
- Jéssica Domingues
- 22 de ago.
- 4 min de leitura
Atualizado: 17 de nov.
Introdução
Relações humanas não são nada simples, como disse Freud no mal estar da civilização uma das nossas principais fontes de angústia é o contato com os outros. Contudo, é nesse contato que também encontramos boa parte dos prazeres da vida. A convivência intima escancara essa ambivalência e existem momentos em que surgem impasses que convocam um novo espaço de articulação.
A terapia de casal pode ser um espaço para repensar a vida a dois — ou simplesmente para reencontrar o diálogo, mesmo quando não há certezas. Este texto é um convite a entender o que é esse tipo de atendimento, quando ele pode ser indicado e como ele pode se articular com processos individuais de análise.

Quando procurar a terapia de casal?
Há quem procure em um terapia de casal após um evento disparador de crise — uma traição, uma separação iminente, um luto —, há quem procure após a erosão cotidiana do acúmulo de silêncios, afastamentos... No barulho ou no silêncio ensurdecedor, colocar em palavras a dinâmica estabelecida, muitas vezes pode ser algo desafiador. Conseguir compartilhar essas sutilezas é um passo importante para poder seguir em frente, juntos ou não.
Alguns sinais que costumam motivar a procura:
Dificuldade de comunicação ou aumento nas discussões;
Sensação de distanciamento emocional;
Decisões importantes que geram conflitos (filhos, mudança, finanças);
Presença de ciúmes excessivos ou desconfiança;
Vontade de fortalecer o vínculo e redescobrir o diálogo.
Como funciona a terapia de casal na psicanálise?
A escuta psicanalítica não se volta apenas para o que se diz, mas para os silêncios, os gestos, as repetições. Em um atendimento de casal, isso se torna ainda mais complexo: há dois sujeitos, dois desejos, duas histórias — e a relação entre eles, e esse é o objeto principal da análise, a relação.
Na terapia de casal pela psicanálise, o objetivo não é “consertar” a relação, mas abrir espaço para que algo possa emergir do encontro. Não há protocolos prontos, mas uma escuta ética, que permite que cada um possa se colocar — e escutar o outro, apesar de parecer uma mediação dito dessa forma, o ponto é criar uma possibilidade de que a relação tenha um lugar de escuta e reflexão, mais do que tratar individualmente das questões.
Alguns casais chegam com o desejo de permanecer juntos. Outros, com dúvidas. Há também quem procure o atendimento para se separar de forma menos dolorosa, mais consciente, especialmente quando há filhos envolvidos. A proposta não é “salvar” a relação, mas compreendê-la: o que está em jogo neste vínculo? o que essa relação está tentando dizer a cada um?
E se a terapia de casal não for o caminho?
Às vezes, o que emerge nos atendimentos é a necessidade de um dos parceiros (ou ambos) iniciar uma análise individual. Não porque a terapia de casal tenha “falhado”, mas porque escutar o outro, de verdade, muitas vezes exige antes poder escutar a si mesmo.
A terapia de casal e a análise individual não se excluem. Pelo contrário: quando feitas simultaneamente, podem se apoiar mutuamente. É comum que os movimentos de um reverberem no outro — e que, ao longo do processo, o casal possa se perceber com novos olhos.
Um convite à escuta
Cada relação é única — e também são singulares os impasses que surgem no encontro entre duas pessoas. Por isso, a terapia de casal não oferece receitas, mas presença. E a escuta, quando sustentada com ética e cuidado, pode produzir movimentos inesperados e até potentes.
Mesmo que você não saiba ao certo o que está buscando, talvez esse seja um bom momento para se perguntar: qual é o lugar dessa relação na minha vida? o que desejo dela — e de mim, nela?
Referência:
Freud, S (1930). O Mal estar na civilização.
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Se você busca compreender melhor como funciona um processo terapêutico, especialmente sob a lente da psicanálise, talvez esses textos ajudem a abrir caminho:
São reflexões sobre o processo de análise pessoal, que se aplica — com as devidas singularidades — tanto ao atendimento individual quanto ao trabalho com casais.
Sobre a Autora:
Jéssica Domingues é psicanalista com percurso formativo pelo Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Atende adolescentes e adultos em consultório particular, com atendimento presencial em Higienópolis (São Paulo) e Cerâmica (São Caetano do Sul), além de atendimentos online. Participa de grupos de estudos voltados à psicanálise contemporânea. Interessa-se por temáticas como depressão, luto, repetição e as formas atuais de mal-estar. É autora do artigo “O conceito de limite em André Green como proposta anti-procustiana ao enquadre clássico”, apresentado na Jornada de Membros do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes de 2022.
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