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Esquecimento de palavras estrangeiras: conflito em cena

  • Foto do escritor: Jéssica Domingues
    Jéssica Domingues
  • 23 de jul.
  • 4 min de leitura

Sobre a série “Psicopatologia da vida cotidiana”


Psicopatologia da vida cotidiana: expressões do inconsciente em nossa rotina


Em 1901, Freud publicou o artigo que dá nome a esta série. Um texto extenso, por vezes mutilado nas traduções — algumas edições chegam a omitir dois terços do conteúdo original, como apontam notas da edição Standard.


O artigo foi escrito logo após a publicação de A Interpretação dos Sonhos (1900) e pode ser lido como seu desdobramento. Se no livro dos sonhos Freud introduz os mecanismos de condensação, deslocamento e figurabilidade, neste artigo ele mostra como essas operações também aparecem fora do contexto onírico — nos esquecimentos, lapsos e pequenos erros da vida desperta.


Fora do setting analítico, essas manifestações costumam ser tratadas como acontecimentos triviais. Mas, na análise, tornam-se matéria de escuta, abrindo caminhos para as mensagens cifradas que o sujeito comunica — mesmo sem saber.


Como o texto é longo e cada capítulo trata de uma formação diferente — desde o esquecimento de palavras estrangeiras até os atos falhos combinados, o determinismo inconsciente e a crítica à crença no acaso — esta série propõe uma leitura semanal comentada, em que cada post será dedicado a um desses aspectos.


Entre o esquecimento e o erro, entre o riso e o estranhamento, o inconsciente se insinua — e convida à reflexão.


Capítulo 2 – O esquecimento de palavras estrangeiras


Pintura de um homem de costas observando letras da palavra "ALIQUIS" se fragmentando e sendo levadas pelo vento, com fundo de céu turvo. Representação simbólica do esquecimento de palavras estrangeiras, inspirado em Freud.
No esquecimento só a palavra que escapa — ou algo mais a acompanha?

Quando uma palavra estrangeira nos escapa


Começamos com a pergunta que mobiliza Freud neste capítulo:


Por que esquecemos palavras de línguas que não são a nossa?


Seria apenas cansaço, distração ou falta de uso? Freud responde que não apenas. Há, em certos esquecimentos, uma lógica que escapa à razão — mas não ao inconsciente.


Esquecer uma palavra estrangeira, para Freud, pode ser mais do que uma falha trivial da memória: pode ser uma formação do inconsciente, como os sonhos, os atos falhos e os sintomas.


Nem toda palavra esquecida é sem importância


Freud parte de um exemplo vivido: um interlocutor tenta citar um verso em latim, mas no lugar de aliquis, a palavra desaparece.


Freud propõe seguir pela via da associação livre, esse método de escuta que não se contenta com o imediato, mas aposta no encadeamento espontâneo das ideias. O interlocutor associa aliquis a "a" e "liquis", e a partir daí surgem nomes de santos, imagens da Igreja Católica… até chegar à confissão: sua companheira estava com um atraso menstrual. O trecho que citava trazia justamente a ideia de uma descendência vingadora.


O esquecimento, aqui, revela um conflito. A entre evocação de uma possível descendência vingadora e a possível descendência a caminho.


Esquecer é lembrar de outro modo


Para Freud, mesmo quando não há uma palavra substituta imediata, é possível investigar o esquecimento — puxando o fio das associações.


É isso que diferencia o olhar psicanalítico: a interrogação do sintoma e não seu silenciamento.

A palavra esquecida torna-se porta de entrada para significados recalcados, mesmo quando não sabemos, a princípio, do que se trata.


A pergunta que ecoa:


O que diz o inconsciente quando uma palavra não vem?

Talvez, no esquecimento, o sujeito diga mais do que imagina. Talvez, o lapso seja um modo de preservar-se — ou de se trair.

Talvez, o que falta seja só a superfície. E o que se quer esquecer, de fato, esteja em outro lugar.


Próximo capítulo: os nomes e as sequências que não lembramos

No próximo texto da série, Freud se volta para outro tipo de esquecimento: o dos nomes e das sequências de palavras. Para ser avisado dos novos capítulos, você pode se inscrever no formulário de newsletter logo abaixo ou clicando aqui.


Referência:

  • Freud, S (1901). Psicopatologia da Vida Cotidiana, capitulo 2.


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Sobre a Autora:

Jéssica Domingues é psicanalista com percurso formativo pelo Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Atende adolescentes e adultos em consultório particular, com atendimento presencial em Higienópolis (São Paulo) e Cerâmica (São Caetano do Sul), além de atendimentos online. Participa de grupos de estudos voltados à psicanálise contemporânea. Interessa-se por temáticas como depressão, luto, repetição e as formas atuais de mal-estar. É autora do artigo “O conceito de limite em André Green como proposta anti-procustiana ao enquadre clássico”, apresentado na Jornada de Membros do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes de 2022.

 

Se esse texto te deixou pensando, e quiser conversar sobre um possível início, você pode agendar uma sessão ou me escrever.

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