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Culpa materna: a mãe, a mulher e seus conflitos

  • Foto do escritor: Jéssica Domingues
    Jéssica Domingues
  • 3 de out.
  • 4 min de leitura

O que é culpa materna?


A chamada culpa materna é um dos sentimentos mais recorrentes relatados por aquelas que se tornam mães. Pode aparecer em situações cotidianas — como voltar ao trabalho, perder a paciência ou não corresponder ao ideal de “mãe perfeita”. Mas, do ponto de vista psicanalítico, essa culpa não se resume a um erro concreto. Ela carrega marcas sociais e, sobretudo, a própria história emocional de cada mulher.


A culpa materna é uma das experiências emocionais mais frequentes e, ao mesmo tempo, mais difíceis de nomear. Não se trata apenas de algo vivido no exercício da maternidade, mas de um sentimento que se desdobra em diferentes camadas: os conflitos da mãe, os conflitos da mulher e as tensões entre esses dois lugares.


A culpa materna e o olhar sobre os filhos


Ao lidar com as emoções dos filhos, os pais inevitavelmente se deparam com suas próprias emoções. Muitas vezes, isso significa reencontrar feridas antigas, lembranças dolorosas e marcas que não foram elaboradas. Nessas horas, a criança pode evocar no adulto tanto ternura quanto impaciência, tanto desejo de cuidar quanto a repetição ou compensação de padrões herdados.


A dificuldade está em reconhecer que o encontro com a criança é também um encontro com a própria história emocional. Quando isso não é percebido, a culpa materna tende a se intensificar, pois cada reação é vivida como falha ou excesso.


Por que tantas mães se sentem culpadas?


Vivemos em uma cultura que cultiva a ideia de que a mãe deve ser sempre presente, paciente, capaz de suprir todas as necessidades do filho. E como todo ideal, é inalcançável, mas ainda assim pauta expectativas internas e externas. Quando a realidade se mostra diferente — e inevitavelmente se mostrará — a culpa aparece como resposta. Ela revela não apenas as dificuldades da maternidade, mas também o peso dos discursos sociais sobre o que é ser mãe. E além disso, a quem esse ideal atende? Quem será que se beneficia de tamanha exigência? Como será o desenvolvimento de uma criança criada por uma mãe "perfeita"?


Ilustração onírica em aquarela para o blog da psicanalista Jéssica Domingues. Três silhuetas femininas lembram uma matrioska difusa, com camadas em azul profundo e dourado suave. A obra acompanha o texto "Culpa materna: a mãe, a mulher e seus conflitos"
Dentro de cada mãe existe também a filha que ela já foi. Entre camadas de amor, sombra e luz, nasce o desafio de cuidar do outro sem perder a si mesma.


O peso da sociedade e o mito da mãe perfeita


O mito da mãe perfeita é uma armadilha: cria a fantasia de que é possível dar conta de tudo sem falhas. No entanto, a psicanálise nos lembra que não existe perfeição possível no vínculo humano. Winnicott, por exemplo, fala da “mãe suficientemente boa”: aquela que, entre acertos e falhas, sustenta o desenvolvimento do filho. Ser uma mãe suficientemente boa é justamente o que dá chance para que haja um filho suficientemente bom.


A culpa materna muitas vezes não é um sinal de erro grave, mas de exigências excessivas — internas e externas — que tornam impossível habitar a maternidade de forma autêntica.


A mulher para além da maternidade


É importante lembrar que a culpa materna não nasce apenas da relação com os filhos. Muitas mulheres carregam também a tensão entre ser mãe e ser mulher: manter uma vida profissional, cuidar do corpo, preservar a vida amorosa, ter desejos próprios.


Não raro, a culpa aparece quando a mulher se vê dividida entre estar disponível para os filhos e manter espaços que sustentam sua identidade pessoal. O conflito não está apenas na maternidade em si, mas na negociação constante entre papéis, responsabilidades e desejos.


Da culpa para a responsabilidade: um caminho possível


A culpa materna pode ser paralisante, mas também pode abrir espaço para reflexão. Em vez de permanecer no círculo vicioso da autocobrança, é possível transformar esse sentimento em responsabilidade: reconhecer limites, rever expectativas, aprender a nomear emoções e construir formas mais honestas de vínculo. Esse movimento não elimina as falhas — porque elas fazem parte da vida —, mas permite que a mãe habite a maternidade com mais autenticidade e menos aprisionamento. É justamente na possibilidade de reconhecer suas emoções, acolher seus próprios conflitos e compreender a origem deles que algo pode mudar.

Nesse sentido, a análise pessoal oferece um espaço em que a mulher pode se escutar, sem precisar ser somente mãe ou somente mulher, mas um sujeito que abriga essas e outras dimensões.


A maternidade nunca é neutra: ela sempre convoca a história da mulher que a vive. Ao invés de buscar a perfeição, pode ser mais transformador escutar a si mesma nesse processo. Esse caminho, ainda que desafiador, pode trazer mais presença, liberdade e verdade ao encontro entre da mulher com ela mesma e todas a que habitam nela.


Ser mãe não elimina as contradições de ser mulher, e ser mulher não suspende as responsabilidades da maternidade. Entre essas tensões, nasce a culpa materna. Quando esse sentimento pode ser olhado com honestidade e trabalhado em profundidade, deixa de ser apenas peso e se transforma em oportunidade de autoconhecimento — fortalecendo tanto a mulher quanto a mãe que coexistem em cada sujeito.


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Sobre a Autora:

Jéssica Domingues é psicanalista com percurso formativo pelo Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Atende adolescentes e adultos em consultório particular, com atendimento presencial em Higienópolis (São Paulo) e Cerâmica (São Caetano do Sul), além de atendimentos online. Participa de grupos de estudos voltados à psicanálise contemporânea. Interessa-se por temáticas como depressão, luto, repetição e as formas atuais de mal-estar. É autora do artigo “O conceito de limite em André Green como proposta anti-procustiana ao enquadre clássico”, apresentado na Jornada de Membros do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes de 2022.

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