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Tripé psicanalítico entre centopeias e pés inchados

  • Foto do escritor: Jéssica Domingues
    Jéssica Domingues
  • 9 de jul.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 11 de jul.

A análise pessoal como ponto de partida da escuta clínica


Ilustração de um divã com dezenas de pernas de centopeia no lugar dos três pés tradicionais, em alusão crítica à formação psicanalítica sem sustentação no tripé clássico.
Afinal, com quantos pés se faz uma formação?

Se você já pesquisou sobre formação em psicanálise, é provável que tenha se deparado com o tal "tripé psicanalítico". Mas o que significa essa estrutura que sustenta o percurso de quem deseja escutar o outro por meio da psicanálise? E por que é tão importante pensar sobre ela, especialmente quando há tantas promessas por aí de formações breves, padronizadas e com muitos "pés" — como centopeias que andam sem saber muito bem para onde vão?


💡 Se você ainda está tentando entender as diferenças entre psicologia, psicanálise e psiquiatria, vale a pena visitar o texto Universo Psi, que introduz essas distinções e mostra como a formação do psicanalista segue uma lógica diferente das demais abordagens.


O que é o tripé psicanalítico?


A formação em psicanálise não se reduz a cursos ou certificados. Ela se apoia em três pilares interdependentes: a análise pessoal, a supervisão clínica e os estudos teóricos. Juntos, eles constituem o tripé psicanalítico — uma sustentação que, como o nome sugere, exige equilíbrio. Nenhum dos pilares se sobrepõe aos demais. Cada um oferece uma experiência essencial para que o futuro analista possa escutar, intervir e sustentar sua prática com ética e responsabilidade.


Por que não é possível privilegiar apenas um dos pilares?


Como todo tripé, o desequilíbrio de um dos lados compromete a estrutura inteira. A escuta psicanalítica não se faz apenas com técnica nem pode ser ensinada como um procedimento fechado, diz-se inclusive que a psicanálise não se ensina, mas se transmite, justamente por se tratar de algo que exige um outro e uma experiência de intercâmbio subjetivo. O sujeito que chega à análise é único, tecido por histórias, fantasias e afetos singulares. E isso exige do analista uma disponibilidade igualmente singular.


Há comunicações que vão para além do que é dito, expressado consistentemente e esse tipo de sensibilidade — que percebe o que não está nos manuais — é justamente o que a análise pessoal pode propiciar. É ali, na própria experiência como analisante, que o futuro psicanalista aprende a reconhecer seus afetos, seus ruídos e as armadilhas da contratransferência. É ali que ele aprende a escutar com ternura e rigor.


A análise pessoal como experiência fundante


Ferenczi, em suas reflexões sobre o trauma, alerta para o risco do adulto impor suas paixões à criança. Joyce McDougall também nos fala da mãe que não escuta as necessidades do bebê e, em vez disso, impõe as suas próprias. São exemplos de como o desencontro pode se tornar traumático — e, na clínica, esse risco também existe.


É na análise pessoal que o futuro analista se depara com seus próprios impasses, identificações, fantasias e resistências. É ali que ele pode elaborar o desejo de tornar-se analista e compreender de que lugar deseja escutar o outro. Não para "corrigir" ou "aconselhar", mas para sustentar uma presença capaz de acolher, interpretar e suportar o que vem do outro sem se confundir com o que lhe pertence.


O nome Édipo, que dá título a um dos conceitos mais conhecidos da teoria freudiana, carrega em si a marca dos pés inchados — símbolo de uma história marcada por um destino imposto. Não à toa, a análise pessoal ocupa lugar tão central: é nesse espaço que o futuro analista pode, ele mesmo, rever os caminhos herdados e escolher novos modos de caminhar.


As centopeias e a multiplicação de pés


Nos últimos anos, surgiram muitos caminhos que prometem uma formação rápida e acessível. São cursos que muitas vezes ignoram o tripé psicanalítico, mas oferecem uma multiplicação de módulos e selos — como centopeias que acumulam pés, mas pouco chão. Em geral, apresentam-se como acessos fáceis a um pote de ouro ao fim do arco-íris, mas deixam de lado a exigência de um trabalho clínico artesanal, atento, em construção contínua.


A proposta freudiana, no entanto, está longe dessa lógica. Ela implica tempo, atravessamento, elaboração. O tripé, nesse contexto, não é um currículo a cumprir, mas uma travessia existencial. É isso que diferencia a formação psicanalítica e nesse caminho do percurso formativo a análise pessoal talvez seja o primeiro primeiro passo.


Referências:


 

Sobre a Autora:

Jéssica Domingues é psicanalista com percurso formativo pelo Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Atende adolescentes e adultos em consultório particular, com atendimento presencial em Higienópolis (São Paulo) e Cerâmica (São Caetano do Sul), além de atendimentos online. Participa de grupos de estudos voltados à psicanálise contemporânea. Interessa-se por temáticas como depressão, luto, repetição e as formas atuais de mal-estar. É autora do artigo “O conceito de limite em André Green como proposta anti-procustiana ao enquadre clássico”, apresentado na Jornada de Membros do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes de 2022.

Se esse texto te deixou pensando, e quiser conversar sobre um possível início, você pode agendar uma sessão ou me escrever.


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