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De fora para dentro: os estímulos sensoriais externos no sonho

  • Foto do escritor: Jéssica Domingues
    Jéssica Domingues
  • 29 de out.
  • 5 min de leitura

Sobre a série “A Interpretação dos Sonhos”

A Interpretação dos Sonhos: o inconsciente em imagens e deslocamentos


Publicada em 1900, A Interpretação dos Sonhos é considerada a pedra fundamental da psicanálise. Nela, Freud descreve como o inconsciente se expressa nas imagens oníricas por meio de condensações, deslocamentos e processos de figurabilidade — mecanismos que traduzem o pensamento inconsciente em cenas, símbolos e narrativas.


Com esta série, damos continuidade ao percurso iniciado em “Psicopatologia da Vida Cotidiana”, texto publicado em 1901 e que pode ser lido como um desdobramento de A Interpretação dos Sonhos. Se ali Freud mostrou como o inconsciente se revela nos lapsos, esquecimentos e atos falhos, aqui ele nos conduz à origem do trabalho onírico, onde o desejo se disfarça em imagem e o sentido se oculta no sonho.


Ao propor que os sonhos são a via régia para o inconsciente, Freud nos convida a atravessar essa fronteira entre o visível e o invisível, entre o que se sonha e o que se cala. Nesta série, acompanharemos essa travessia, explorando os conceitos fundamentais da interpretação dos sonhos e o modo como, ainda hoje, os sonhos seguem sendo uma via de acesso ao inconsciente e à elaboração psíquica.


Capítulo 1 - C 1 - Os estímulos sensoriais externos no sonho


Ilustração aquarelada e onírica do blog da psicanalista Jéssica Domingues para o texto De fora para dentro: os estímulos sensoriais externos no sonho. Um quarto em dissolução mistura-se a nuvens e luzes suaves; cortinas, travesseiro e abajur quase se desfazem, integrando-se a elementos externos como folhas, lua e brisa. Atmosfera leve, etérea e silenciosa, em tons azul-pálido, lilás e luz leitosa difusa, simbolizando a passagem dos estímulos do mundo exterior ao campo do sonho.
O que do mundo ainda nos toca enquanto dormimos?

Às vezes, o mundo insiste em entrar no sonho — o barulho da chuva vira aplauso, o toque do despertador se transforma em música. É como se o sonho aceitasse negociar com a realidade, só para poder continuar dormindo um pouco mais.

Freud começa, aqui, a examinar a relação entre a pessoa adormecida e o mundo que a envolve. No item c-1, ele pergunta: como os estímulos que chegam pelos sentidos — sons, luzes, toques — participam da formação do sonho?


O sonho como guardião do sono


Durante o sono, a pessoa continua exposta a estímulos externos, embora a percepção esteja atenuada.Um ruído, um feixe de luz, o frio que toca a pele — tudo isso pode provocar uma reação.Mas, em vez de despertar imediatamente, o sonho intervém como um mediador, traduzindo o estímulo em imagem, para que o sono se preserve.

“O sonho”, escreve Freud, “é o guardião do sono.”

Um exemplo clássico é o do som de um sino, que no sonho se torna o repicar de uma igreja ou o anúncio de uma cerimônia distante. O inconsciente, diante do estímulo, inventa uma narrativa para que o corpo não precise acordar.


Entre o fora e o dentro


Esses sonhos mostram que o inconsciente não é alheio ao mundo externo — ele o transforma.O estímulo sensorial é um dado objetivo, mas o modo como aparece no sonho revela algo de singular em cada pessoa: o som é o mesmo, mas o significado é próprio.Um toque, por exemplo, pode surgir como abraço, vento ou ameaça — depende da trama interna que acolhe o estímulo.

“O sonho acolhe o mundo e o traduz à sua maneira.”

Assim, o campo sensorial se mistura ao campo simbólico: o corpo sente, o inconsciente interpreta.


A escuta clínica do que vem de fora


Na clínica, isso nos convida a perguntar:

O que é, para cada pessoa, o que vem de fora?

O estímulo não é apenas o ruído do ambiente, mas aquilo que perturba a continuidade do sono.O sonho transforma o incômodo externo em imagem, oferecendo um modo de elaboração — uma forma de negociar com o mundo sem precisar despertar.

Sonhar é, em certo sentido, fazer mediação entre o fora e o dentro — entre o impacto sensorial e a necessidade de permanecer em repouso.


A delicadeza de permanecer dormindo

Enquanto dormimos, o mundo nos toca — e o sonho responde com imagens.Talvez sonhar seja isso: traduzir o que chega de fora em algo que só nós podemos compreender.

Há uma sabedoria silenciosa no modo como o sonho se apropria do estímulo externo.Ele não o nega, mas o transforma: o ruído torna-se melodia, o toque torna-se lembrança, a luz vira passagem. No sonho, o mundo se dissolve em linguagem própria, permitindo que a pessoa siga dormindo — e sonhando.


Perguntas frequentes sobre os estímulos sensoriais externos (FAQ)


1. O que Freud chama de estímulos sensoriais externos?

São os estímulos vindos do ambiente — sons, luzes, toques, variações de temperatura — que incidem sobre o corpo durante o sono e podem influenciar a formação do sonho.


2. Como o sonho reage a esses estímulos?

O sonho costuma transformar o estímulo em uma imagem ou cena simbólica, protegendo o sono. Assim, o ruído de um sino pode virar, no sonho, o toque de uma música ou um ritual distante.


3. O que significa dizer que o sonho é o guardião do sono?

Freud usa essa expressão para indicar que o sonho serve para prolongar o sono. Neste capítulo, que trata dos estímulos sensoriais externos, ele mostra que o sonho reinterpreta esses estímulos, evitando que despertem o sonhador.


4. Os estímulos externos determinam o conteúdo do sonho?

Não. Eles participam de sua formação, mas o modo como aparecem depende do inconsciente de cada pessoa — o mesmo som pode gerar imagens completamente diferentes.


5. O que aprendemos clinicamente com isso?

Que o sonho revela a forma singular de cada pessoa lidar com o que vem de fora. Escutar o sonho é também escutar como o psíquico responde ao toque do mundo.


Referência:

  • Freud, S (1900). A interpretação dos sonhos, 1-c1.

 

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Sobre a Autora:

Jéssica Domingues é psicanalista com percurso formativo pelo Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Atende adolescentes e adultos em consultório particular, com atendimento presencial em Higienópolis (São Paulo) e Cerâmica (São Caetano do Sul), além de atendimentos online. Participa de grupos de estudos voltados à psicanálise contemporânea. Interessa-se por temáticas como depressão, luto, repetição e as formas atuais de mal-estar. É autora do artigo “O conceito de limite em André Green como proposta anti-procustiana ao enquadre clássico”, apresentado na Jornada de Membros do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes de 2022.  

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