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Lapsos na fala: Quando a língua tropeça

  • Foto do escritor: Jéssica Domingues
    Jéssica Domingues
  • 13 de ago.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 15 de ago.

Sobre a série “Psicopatologia da vida cotidiana”


Psicopatologia da vida cotidiana: expressões do inconsciente em nossa rotina


Em 1901, Freud publicou o artigo que dá nome a esta série. Um texto extenso, por vezes mutilado nas traduções — algumas edições chegam a omitir dois terços do conteúdo original, como apontam notas da edição Standard.


O artigo foi escrito logo após a publicação de A Interpretação dos Sonhos (1900) e pode ser lido como seu desdobramento. Se no livro dos sonhos Freud introduz os mecanismos de condensação, deslocamento e figurabilidade, neste artigo ele mostra como essas operações também aparecem fora do contexto onírico — nos esquecimentos, lapsos e pequenos erros da vida desperta.


Fora do setting analítico, essas manifestações costumam ser tratadas como acontecimentos triviais. Mas, na análise, tornam-se matéria de escuta, abrindo caminhos para as mensagens cifradas que o sujeito comunica — mesmo sem saber.


Como o texto é longo e cada capítulo trata de uma formação diferente — desde o esquecimento de palavras estrangeiras até os atos falhos combinados, o determinismo inconsciente e a crítica à crença no acaso — esta série propõe uma leitura semanal comentada, em que cada post será dedicado a um desses aspectos.


Entre o esquecimento e o erro, entre o riso e o estranhamento, o inconsciente se insinua — e convida à reflexão.


Capítulo 5: Lapsos na fala


Tirinha com Sigmund Freud sentado em um poltrona dizendo "A Freudian slip is when you say one thing but means your mother... I mean another"
Tradução: Um "ato falho" é quando você fala uma coisa que quer dizer sua mãe, quer dizer, outra. Vejam como o psicopatologia da vida cotidiana sofreu com as traduções, cá estamos passando por isso também...

Você já disse algo “por engano” e, segundos depois, pensou: “Mas por que eu falei isso?” Esses deslizes, conhecidos como lapsos de fala, são muito mais do que simples confusões linguísticas. Na psicanálise, eles são janelas pelas quais o inconsciente se deixa ver — ainda que de maneira súbita e desconcertante.


Meme com origem no instagram de usuária chamada Clara dizendo: ser pego na malha fina do inconsciente (cometer um ato falho)
Você retifica sua declaração?

O que são os lapsos da fala?


Na vida cotidiana, chamamos de “erro” o que Freud chamou de ato falho. Pode ser confundir palavras, trocar nomes, engolir ou acrescentar uma sílaba. Mas, na psicanálise, nada disso é totalmente por acaso. Um lapso é como uma carta enviada sem assinatura: o remetente é o inconsciente.

“Um ato falho é um acerto do inconsciente.” — Poderia dizer Freud, se tivesse redes sociais.

Entre o riso e o desconforto


Há uma relação estreita entre o lapso na fala e o chiste (dito espirituoso, ger. de humor fino e adequado gracejo; facécia, pilhéria.), não é atoa que esse texto está com memes e tirinhas. Esse é um recurso usado também por comediantes e outros artistas, no artigo em questão Freud cita Shakespeare e George Meredith que fizeram uso do lapso para suavizar passagens em suas obras.


Alguns lapsos são tão engraçados que provocam risadas na hora. Outros, porém, deixam uma pontada de estranhamento, como se algo íntimo tivesse sido revelado por acidente. É justamente nesse ponto que o psicanalista escuta não apenas o que foi dito, mas como foi dito — e o que poderia estar sendo encoberto ou deslocado.


Não é só distração: o papel do inconsciente


Na vida cotidiana, tendemos a culpar a pressa ou o cansaço: “Estou tão cansado que estou trocando as palavras”. Mas, na perspectiva freudiana, esses “erros” são atos falhos — manifestações em que desejos, medos ou conflitos escapam à censura da consciência.

Em outras palavras: não foi apenas um tropeço linguístico. Foi o inconsciente encontrando uma brecha para se expressar.


Por que prestamos atenção a esses lapsos


Na clínica, um lapso pode indicar um desejo não admitido, um conflito interno ou até uma lembrança reprimida. Para o psicanalista, o ato falho é material de trabalho: ele nos dá pistas, mas não respostas prontas. É na análise que esse fio se desenrola. O analista não se prende apenas ao “erro” em si, mas ao caminho associativo que ele abre: o que veio à mente depois, quais lembranças surgiram, que sentimentos acompanharam o momento.


Assim, o lapso deixa de ser algo para ser corrigido rapidamente e passa a ser um sinal a ser pensado.


Lapsos, memória e desejo


Freud associou lapsos a processos psíquicos inconscientes que encontram uma forma disfarçada de se manifestar. Um nome esquecido, uma palavra trocada ou uma frase truncada podem revelar mais sobre nós do que longas explicações.


Em resumo: um lapso da fala não é apenas um tropeço de linguagem. É um gesto involuntário do inconsciente — e, muitas vezes, um convite para nos escutarmos de forma mais profunda.


Ilustração onírica do post “Lapsos na fala: quando a língua tropeça”, de Jéssica Domingues Psicanalista. A imagem traz uma cabeça translúcida com objetos simbólicos — borboletas, lápis, espelho, um relógio derretido e uma marionete saindo de uma porta — flutuando em torno dela. Letras flutuantes saindo da boca, sugerindo a ação do inconsciente sobre a fala.
Confissões não intencionais

Próximo capítulo: lapsos de leitura e escrita


No próximo texto da série, Freud toca no assunto dos lapsos de leitura e escrita, a língua tropeça, já vimos, vamos pensar na próxima semana sobre esses outros tropeços reveladores. Para ser avisado dos novos capítulos, você pode se inscrever no formulário de newsletter logo abaixo ou clicando aqui.


Referência:


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Sobre a Autora:

Jéssica Domingues é psicanalista com percurso formativo pelo Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Atende adolescentes e adultos em consultório particular, com atendimento presencial em Higienópolis (São Paulo) e Cerâmica (São Caetano do Sul), além de atendimentos online. Participa de grupos de estudos voltados à psicanálise contemporânea. Interessa-se por temáticas como depressão, luto, repetição e as formas atuais de mal-estar. É autora do artigo “O conceito de limite em André Green como proposta anti-procustiana ao enquadre clássico”, apresentado na Jornada de Membros do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes de 2022. 

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