top of page
Atendimento online e presencial

Inscreva-se para receber os novos posts do blog

Instagram 

  • Instagram

Instagram 

  • Instagram

Instagram 

  • Instagram

Fontes psíquicas dos sonhos: o que a vida psíquica oferece ao sonhar

  • Foto do escritor: Jéssica Domingues
    Jéssica Domingues
  • 19 de nov
  • 4 min de leitura

Sobre a série “A Interpretação dos Sonhos

A Interpretação dos Sonhos: o inconsciente em imagens e deslocamentos


Publicada em 1900, A Interpretação dos Sonhos é considerada a pedra fundamental da psicanálise. Nela, Freud descreve como o inconsciente se expressa nas imagens oníricas por meio de condensações, deslocamentos e processos de figurabilidade — mecanismos que traduzem o pensamento inconsciente em cenas, símbolos e narrativas.


Com esta série, damos continuidade ao percurso iniciado em “Psicopatologia da Vida Cotidiana”, texto publicado em 1901 e que pode ser lido como um desdobramento de A Interpretação dos Sonhos. Se ali Freud mostrou como o inconsciente se revela nos lapsos, esquecimentos e atos falhos, aqui ele nos conduz à origem do trabalho onírico, onde o desejo se disfarça em imagem e o sentido se oculta no sonho.


Ao propor que os sonhos são a via régia para o inconsciente, Freud nos convida a atravessar essa fronteira entre o visível e o invisível, entre o que se sonha e o que se cala. Nesta série, acompanharemos essa travessia, explorando os conceitos fundamentais da interpretação dos sonhos e o modo como, ainda hoje, os sonhos seguem sendo uma via de acesso ao inconsciente e à elaboração psíquica.


Capítulo 1 - C 4 - Fontes psíquicas de estímulo

Nem tudo no sonho vem do corpo, nem tudo vem do dia. Há sempre algo que escapa às explicações mais imediatas.
Ilustração em aquarela onírica para o texto ‘Fontes psíquicas dos sonhos: o que a vida psíquica oferece ao sonhar’, no blog da psicanalista Jéssica Domingues: formas abstratas fluidas, nuvens de tinta e fragmentos luminosos que evocam pensamentos, lembranças e afetos se condensando no campo do sonho
O que, em você, sonha quando você dorme?

Ao chegar a este ponto, Freud aborda a quarta via de origem onírica: as fontes psíquicas dos sonhos. Aqui, ele se afasta tanto dos estímulos externos quanto dos internos/orgânicos e se aproxima do que resta da própria vida psíquica — pensamentos, impressões, afetos, resíduos do cotidiano.


A ideia antiga de que “sonhamos com o que vivemos durante o dia” permanece parcialmente verdadeira. Mas, para Freud, essa explicação é incompleta: ela toca um pedaço da verdade, mas não explica o cerne da vida onírica.


Fontes psíquicas dos sonhos e os restos diurnos


Freud reconhece que lembranças recentes, pequenas preocupações e impressões vagas reaparecem nos sonhos. São os chamados restos diurnos.


Eles participam da formação do sonho, mas não são sua totalidade. Ao lado deles, surgem imagens que não se deixam reduzir ao vivido:

essas figuras deslocadas, estranhas, condensadas — como se viessem de outro tempo ou de outro registro.

Os restos diurnos entram como uma fonte, entre outras. Mas o que faz do sonho um sonho é o trabalho psíquico posterior.


O desconforto teórico diante do psíquico


Freud observa que muitos autores — tanto antigos quanto contemporâneos a ele — preferem reduzir os sonhos ao corpo:


  • estímulos dos sentidos,

  • sensações internas,

  • estados orgânicos,

  • reações fisiológicas.


Essa preferência tem uma razão histórica e conceitual:

admitir que a psique opera com relativa autonomia parecia arriscado demais.

Por isso, a tentativa recorrente de colocar o psíquico “sob tutela”, subordinando-o a causas somáticas mais fáceis de medir e confirmar.


O impasse: sonhos associativos e sonhos somáticos


Diversos teóricos tentaram dividir os sonhos em dois grupos:


  • sonhos “causados por estímulos nervosos” (somáticos),

  • sonhos “causados pela associação” (reprodução de material já vivenciado).


Mas eles mesmos reconheciam que:


  • é difícil encontrar sonhos puramente associativos;

  • e nem todo sonho pode ser explicado por estímulos do corpo.


Freud mostra que a maioria dos sonhos nasce da cooperação entre fatores psíquicos e somáticos — sem exclusividade, sem hierarquia simples.


O que Freud realmente propõe aqui


Ele demonstra que:

  • os restos diurnos são uma fonte psíquica real,

  • mas não explicam o sonho inteiro,

  • e, sobretudo, não operam sozinhos.


O ponto essencial é preparar o terreno para entender a fusão entre fontes diversas — externas, internas e psíquicas — que só ganha sentido quando o inconsciente faz sua própria síntese.


Consequências clínicas


A partir deste trecho, torna-se difícil sustentar explicações monocausais. Na clínica, o sonho não se explica:


  • apenas pelo corpo,

  • apenas pelo dia anterior,

  • ou apenas por um símbolo isolado.

Sonhar é sempre uma operação complexa, onde o inconsciente sistematiza, à sua maneira, elementos múltiplos.

A escuta analítica, portanto, busca como esses elementos se organizam e não de onde, isoladamente, cada um deles veio.


FAQ — Fontes psíquicas dos sonhos


1. O que Freud chama de fontes psíquicas dos sonhos?

São restos da vida psíquica: lembranças, interesses, pensamentos e afetos que permanecem ativos e retornam transformados na cena onírica.


2. Restos diurnos explicam completamente os sonhos?

Não. Eles são importantes, mas incompletos. A formação onírica envolve outras fontes — internas, externas e somáticas — articuladas pelo inconsciente.


3. Por que tantos autores preferiam explicações somáticas?

Porque estímulos corporais são mais fáceis de constatar empiricamente. Já o psíquico exige admitir um funcionamento próprio, menos observável e mais complexo.


4. Qual a crítica de Freud à visão exclusivamente somática dos sonhos?

Que ela reduz a vida psíquica e deixa de considerar a articulação própria do inconsciente, que transforma e reorganiza os elementos disponíveis.


Referência:

  • Freud, S (1900). A interpretação dos sonhos, 1-c4.

 

Continue lendo:

Se você gostou deste texto, talvez se interesse por:

 Sobre a Autora:

Jéssica Domingues é psicanalista com percurso formativo pelo Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Atende adolescentes, adultos e casais em consultório particular, com atendimento presencial em Higienópolis (São Paulo) e Cerâmica (São Caetano do Sul), além de atendimentos online. Participa de grupos de estudos voltados à psicanálise contemporânea. Interessa-se por temáticas como depressão, luto, repetição e as formas atuais de mal-estar. É autora do artigo “O conceito de limite em André Green como proposta anti-procustiana ao enquadre clássico”, apresentado na Jornada de Membros do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes de 2022.   

Se esse texto te deixou pensando, e quiser conversar sobre um possível início, você pode agendar uma sessão ou me escrever.

Comentários


Este conteúdo é protegido por direitos autorais. A reprodução, tradução ou adaptação não autorizada, total ou parcial, é proibida. Se desejar compartilhar, cite a fonte com o link original.

whatsapp_edited.png
bottom of page