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Sentimentos morais nos sonhos: o que Freud diz sobre ética e culpa no sonhar

  • Foto do escritor: Jéssica Domingues
    Jéssica Domingues
  • há 6 dias
  • 5 min de leitura

Sobre a série “A Interpretação dos Sonhos

A Interpretação dos Sonhos: o inconsciente em imagens e deslocamentos


Publicada em 1900, A Interpretação dos Sonhos é considerada a pedra fundamental da psicanálise. Nela, Freud descreve como o inconsciente se expressa nas imagens oníricas por meio de condensações, deslocamentos e processos de figurabilidade — mecanismos que traduzem o pensamento inconsciente em cenas, símbolos e narrativas.


Com esta série, damos continuidade ao percurso iniciado em “Psicopatologia da Vida Cotidiana”, texto publicado em 1901 e que pode ser lido como um desdobramento de A Interpretação dos Sonhos. Se ali Freud mostrou como o inconsciente se revela nos lapsos, esquecimentos e atos falhos, aqui ele nos conduz à origem do trabalho onírico, onde o desejo se disfarça em imagem e o sentido se oculta no sonho.


Ao propor que os sonhos são a via régia para o inconsciente, Freud nos convida a atravessar essa fronteira entre o visível e o invisível, entre o que se sonha e o que se cala. Nesta série, acompanharemos essa travessia, explorando os conceitos fundamentais da interpretação dos sonhos e o modo como, ainda hoje, os sonhos seguem sendo uma via de acesso ao inconsciente e à elaboração psíquica.


Capítulo 1 - F - Os sentimentos éticos no sonho


Freud dedica um dos trechos mais inquietantes de A Interpretação dos Sonhos a uma pergunta delicada e inevitável:


a moral continua operando enquanto sonhamos?

Ou, dito de outro modo:os sentimentos morais no sonho desaparecem — ou apenas mudam de forma?


Os autores que Freud convoca sustentam posições opostas. Alguns afirmam que a consciência moral se cala por completo; outros defendem que o caráter ético permanece intacto nos sonhos.


Quase todo mundo já sonhou com algo que, na vida desperta, seria impensável.

Mas Freud não aceita soluções simples.


A tensão central: moral suspensa ou preservada?


Jessen, Radestock e Volkelt acreditam que, no sonho, o julgamento moral se dissolve. Seríamos capazes de transgredir sem qualquer culpa.


Schopenhauer, Fischer e Haffner sustentam que o sonhador age, mesmo dormindo, em continuidade com seu caráter.


Freud mostra que ambos os extremos falham quando tomados isoladamente. Nenhuma dessas saídas se sustenta na clínica.


Imagem do blog da psicanalista Jéssica Domingues sobre sonhos e psicanálise — Sentimentos morais nos sonhos: o que Freud diz sobre ética e culpa no sonhar — pintura em estilo onírico com mulher adormecida, lua dourada, estrelas e figuras simbólicas que evocam a relação entre afeto, ética e inconsciente.
Quando o sonho contraria a moral, o que desperta em você?

O cuidado essencial: não confundir sonho com ação


Aqui, Freud é particularmente rigoroso. Embora impulsos e desejos apareçam, isso não equivale a agir.


Por isso, Freud rejeita qualquer tentativa de julgar alguém pelas cenas que sonhou.

Podemos apenas dizer:

pode haver diferença entre o que aparece no sonho e o que se escolhe na vigília.

Afinal a lógica da vida de vigília responde à lógica consciente, assim como a da vida onírica, responde à lógica inconsciente.


Representações involuntárias: o ponto decisivo


Freud introduz então uma ideia fundamental: há pensamentos, afetos e impulsos que atravessam a vida psíquica sem plena consciência.


Durante a vigília, muitos desses conteúdos são reprimidos, contidos ou ignorados. No sono, retornam sob forma de representações involuntárias — não como escolhas, mas como movimentos psíquicos figurados. E justamente por ocuparem esse lugar, se tornam tão relevantes à escuta do inconsciente.


É por isso que o sonho pode soar estranho: ele não inventa impulsos; ele os dramatiza.

A frase de Hildebrandt ecoa bem aqui: o sonho não inventa — ele encena.

Freud não diz que os sonhos revelam a essência moral de alguém. Ele mostra que o sonho trabalha com material psíquico que não se esgota na consciência.


O afeto não é imaginário


Mesmo que a cena seja fictícia, o afeto é vivido de modo autêntico. Medo, prazer, vergonha e culpa aparecem no sonho com intensidade própria — e isso não deve ser confundido com literalidade.


Freud nos alertará que as figuras não são cópias,os cenários não são transcrições,os objetos não são aquilo que parecem. A emoção é verdadeira, mas a forma é indireta.


O sonho julga?


O sonho mostra. Mostra zonas que a vigília costuma ignorar ou domesticar.

Não condena, não acusa, não revela necessariamente um “verdadeiro eu”.

O que encontramos no sonho não é essência: é trabalho psíquico.


O que os sonhos fazem com a moral, então?


Eles não anulam a ética. Mas também não a espelham como durante o dia.

O sonho reduz a censura, mas não apaga os afetos.

A moral não desaparece — apenas perde a soberania.

E é por isso que tantos sonhos perturbam: não porque digam quem somos diretamente, mas porque mostram o quanto somos atravessados.


FAQ — Sentimentos morais nos sonhos


1 - Sonhar algo imoral significa ter um caráter imoral?

O sonho não é ação nem escolha consciente. Ele apresenta material psíquico figurado, que não equivale a decisão moral. Pode haver diferença entre o que aparece no sonho e o que se escolhe na vigília.


2 - O sonho revela quem somos “de verdade”?

Não de modo direto. O sonho não é espelho da essência, mas uma produção psíquica indireta, na qual afetos e imagens aparecem deslocados de sua forma ordinária.


3 - Os afetos no sonho são reais?

Sim. Medo, prazer, culpa e angústia são vividos com intensidade autêntica. Mas cenas e personagens não devem ser lidos literalmente.


4 - O sonho tem consequências?

Não morais, não jurídicas — mas psíquicas, sim.O sonho afeta, sinaliza, desloca, insiste.


Referência:

  • Freud, S (1900). A interpretação dos sonhos, 1-f.


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 Sobre a Autora:

Jéssica Domingues é psicanalista com percurso formativo pelo Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. Atende adolescentes, adultos e casais em consultório particular, com atendimento presencial em Higienópolis (São Paulo) e Cerâmica (São Caetano do Sul), além de atendimentos online. Participa de grupos de estudos voltados à psicanálise contemporânea. Interessa-se por temáticas como depressão, luto, repetição e as formas atuais de mal-estar. É autora do artigo “O conceito de limite em André Green como proposta anti-procustiana ao enquadre clássico”, apresentado na Jornada de Membros do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes de 2022. 

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